domingo, 16 de fevereiro de 2014

Do sublime ao ridículo: um passo apenas

Por Evita Perón.


XLVIII



Confesso que no dia em que se abriu diante de mim a possibilidade do "caminho feminista", experimentei um pouco de mêdo. Que poderia fazer eu, mulher do povo, onde outras mulheres, mais preparadas, tinham fracassado fragorosamente? Cair no ridículo? Engrossar a falange de mulheres ressentidas com a mulher e com o homem, como tem acontecido com inúmeras líderes feministas?

Por outra parte, não era solteira, velha nem desgraciosa, para ocupar um lugar assim, que, desde que se tem memória, pertence por direito próprio, desde as feministas inglêsas clássicas, até às destas latitudes,
a mulheres dêsse tipo, mulheres cuja primeira vocação foi, decerto, a de serem homens. Tais eram, tais saíram os movimentos por elas orientados!

Primava nelas, antes o despeito de não terem nascido homens, do que o orgulho de se sentirem mulheres.
Acreditavam ser uma injustiça haverem nascido mulheres. Ressentidas com as mulheres, porque não queriam deixar de o ser, e ressentidas com os homens porque não lhes consentiam ser como êles, as "feministas", a imensa maioria das feministas do mundo, até onde as conheço, constituíram um raro espécime de mulher que não me pareceu nunca totalmente mulher! De modo algum aceitava parecer-me com elas.

O General deu-me a explicação de que precisava: "Então não vês que essas mulheres erraram o caminho? Querem ser homens. Tal como se eu, para salvar os trabalhadores, houvesse pretendido fazer deles oligarcas. Teria ficado sem operários! E mais, não teria conseguido com isso melhorar em nada a oligarquia. Não vês que essa classe de "feministas" renega a mulher? Algumas nem sequer se pintam. Qual! Isso é coisa de mulheres! Aspiram a masculinizar-se. E se do que o mundo necessita é de um movimento político e social feminino, que poderá lucrar com mulheres que pretendem salvá-lo, imitando os homens? Nós já fizemos muitas atrapalhações, tantas, que não sei ainda se o mundo terá consêrto. Talvez a mulher possa salvá-lo, desde que não nos imite..."

Tenho sempre presente à memória aquela lição do General.
Nunca, como então, parece-me tão claro e luminoso o seu pensamento.
Era exatamente isso o que eu sentia.
Sentia que o movimento feminino no meu país e no mundo inteiro estava fadado a cumprir uma missão sublime. E o mau era que tudo quanto conhecia acêrca de feminismo se me antolhava ridículo. Isso porque feminismo, liderado não por mulheres mas por marimachos que aspirando a ser homens, nada tinham de mulheres, dera o passo que vai do sublime ao ridículo!
O passo que eu tratei de não dar jamais!



IN: A razão de minha vida. 

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